21 de outubro de 2013

Narrativas Reais Que Queriam Ser Só Sonhos

Subo uma ladeira de pedras cheia de pequenas elevações espinhosas. É um espaço onde atravesso com o corpo; a mente nem tanto, mas tento arrastá-la comigo para observar o lugar com alguma clareza, pois não se vê apenas com os olhos do corpo. Deixe pra lá, diz ela, mas a minha vontade física me arrasta como uma folha de árvore arrancada pelo vento. É um lugar familiar. Já não é mais, diz o corpo. Ele me fala que ali meus ouvidos gravaram risadas, conversas, suspiros e debates sobre o perigo que é um ser humano sem sonhos e ainda diz, estamos apenas escalando uma rocha. Foi então, que tive a certeza que era o meu fim. O topo seria pior. Agora os mesmos olhos, os meus, apoiados aos olhos da mente observam uma vegetação muito incomum. São visgos de uma videira, bem finos e enrolados como cabelos encaracolados, mas profusos, extensos, verdes como lodo, se ninham sobre a rocha azul e produz pequenas uvas que caem por sobre o chão. Alguns pedaços se espatifam e respingam em meus dedos dos pés. Se minha mente estivesse funcionando, poderia eu, utilizar uma das minhas infalíveis hipóteses racionais e logo compreenderia o que acontece, mas dessa vez, minha mente não estava lá muito a meu favor. Tente se virar sozinho, rapaz.

Abriu-se um buraco na minha cabeça, um desses de tiro de bala, mas nada doía. O corpo fala que isso é natural quando a mente nos abandona, que alguns buracos vem crescer sobre o couro cabeludo, as vezes até crateras, que por sorte e exercício, deixa apenas furado, no meu caso a parte superior direita da têmpora. O meu corpo ria do momento, da minha fragilidade e incapacidade de solucionar tudo como antes, e o que fez, foi me levar até o topo da rocha, com a velocidade de um cachorro. Minha boca gargalha horrores, onde saliva e me arrebenta de tanto arfar. Onde o cacho crescia cada vez mais, saía um cheiro até bom, de vinho sem álcool, algo estranho, parecido com suco instantâneo, doce, mas assustador. Não havia vestígios quaisquer de outro ser que tenha passado ali e deixado aquela coisa. Parecia um objeto que acabara de ser criado pela minha mente, e que eu podia ter desenhado se tivesse um caderninho às mãos, mas ela (minha mente) nem estava ali. Fui eu que fiz isso, disse o corpo; meus braços balançando como borracha e as unhas crescendo numa velocidade surpreendente. Eu perguntei por que, mas imediatamente outro buraco se abre em minha testa, dessa vez bem perto do olho. Tente ser forte moço, eu não posso fazer nada agora, diz a mente. Aquilo estava mesmo acontecendo, e não era sonho nem nada. Fui punido por me questionar.

Eu não sabia qual solução para aquele problema. Com cautela, para que não fosse percebida e eu acabasse ganhando outro rombo na cabeça, a mente diz, tem um jeito, mas fiquei paralisado, dominado pelo corpo que começa a me enfiar de uma vez dentro da videira. Tudo ficou escuro e o corpo domina o resto do mundo com a energia que continha em mim. Nada mais respondia. Senti meu sangue sendo sugado pelas vinhas e consequentemente, eu acabar me tornando ela própria. Me arrisco a fazer uma nova pergunta? Era arriscado, podia ser que ficasse acéfalo. Será que morri? Sim, responde a mente. Minha cabeça está intacta, e meu corpo já não existe. Não há peso, não há impulso. Somente ela, como se estivesse suspensa, ou amarrada a cordões imaginários. A mente começa a falar listas e listas de palavras, um tanto incontida, pela alegria de me ver livre. Ela plana e ao meu redor há muitas outras cabeças voadoras, que me recebem com sorrisos familiares.

9 de outubro de 2013

Processando

Processo de coloração no photoshop. O desenho foi inicialmente feito num sketchbook, depois escaneado e tratado digitalmente.